Eu não quero me tornar o que me feriu.
Não quero manipular, abusar, diminuir, destruir as pessoas ao meu redor para que elas fiquem comigo. Não quero causar medo, não quero que mudem através da violência, não acho que ofender e desmerecer as pessoas é o jeito certo de fazê-las repensarem seus caminhos. Não quero destruir alguém e usar suas fraquezas e seus medos para que essa pessoa me ame em uma síndrome de Estocolmo doentia.
Eu não quero me tornar o que me feriu.
Eu não quero ter filhos: não quero arriscar perder a cabeça e criar neles o trauma que foi criado em mim. Não quero ser culpada pelas cicatrizes de outra pessoa, não quero ser culpada pelo sangue de outra pessoa, não quero ser culpada pelas lágrimas de outra pessoa. De uma pessoa que eu coloquei no mundo, que eu escolhi cuidar, que eu deveria fazer florescer e não podar.
Eu não quero me tornar o que me feriu.
Eu não quero me envolver com outras pessoas. Eu não quero diminuir o que eles gostam pelas minhas próprias inseguranças, eu não quero chorar no meio da festa delas, eu não quero cobrar demais porque me abandonaram mais vezes do que eu posso contar. Eu não quero destruir mais nenhum relacionamento, nenhum amor, nenhuma amizade porque eu mesma sou completamente destruída.
Eu não quero me tornar o que me feriu.
Eu não quero me tornar uma namorada abusiva, uma amiga abusiva, uma mãe abusiva, uma pessoa tóxica. Eu não quero que tenham medo de mim, não quero que tenham trauma ao ouvir um nome similar ao meu, não quero que alguém veja sardas e trema em pavor porque associa com o meu rosto.
Eu não quero me tornar o que me feriu.
Eu não quero que tremam e chorem e entrem em pânico ao ouvir a minha voz, eu não quero que ninguém se reprima por eu estar por perto, estar em casa, estar na cidade. Eu não quero que tenham medo de me ouvir falando alto porque acham que sangue vai ser derramado. Eu não quero que tenham medo de conversar comigo sobre coisas boas e ruins porque eu nunca fiz nada de bom.
Eu não quero me tornar o que me feriu.
Mas às vezes, nesse caminho, isso significa não ser nada. Significa ser abandonada por ainda estar se refazendo, significa sofrer sozinha porque ainda não aprendeu a diferenciar o que é real e o que é trauma, o que é cobrança e o que é amor, o que é violência e o que é preocupação.
E isso dói.
Isso dói pra caralho.
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