DDUP #1

O sol acordou magnífico. Apesar do dia nada promissor, eu me sentia estranhamente animada. Mal coloquei os pés para fora da cama, porém, e um desânimo se apossou de mim.

Não é aquele meu lugar.

"Vamos lá...", pensei, enquanto me dirigia para a faculdade.
Uma senhora me cumprimentou com um caloroso "Bom dia!" enquanto me entregava um panfleto religioso da igreja que frequentava.
Estranhamente, eu o li. E, por mais simples e genérico que aquilo fosse, a sensação que eu tive foi que ela sentiu o meu mal-estar e tentou me animar fazendo o que achava que era certo.
E realmente conseguiu.
Apesar disso, a felicidade não durou muito: a manhã foi dura, com olhares tensos e debochados e a estranha sensação de culpa ao vestir um jaleco.
Eu não sou uma pessoa de salvar vidas.

Eu faço parte do grupo que as tira.

O tempo, entretanto, pareceu se apiedar de minha dor e se apressar, fazendo com que tudo me parecesse rápido demais. A aula, o aprendizado, as pessoas, a manhã... a dor. E logo veio a tarde, provando que nada pode ser tão ruim que seja impossível piorar.

Cadáveres.

Estirados em mármore frio, marcados por dissecações e mãos que tentavam, a todo custo, aproveitar aquela perda para salvar outras vidas. A pele, retorcida e queimada pelo formol, faltava em vários pedaços, alguns até mesmo ostentando marcas da violência que os matara. Para os meus colegas, são seu foco: seu meio de aprender.

Pra mim, são memórias que eu quero esquecer.

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