25.04.2016

Eu tô chorando.

Eu tô chorando porque passei a noite tendo pesadelos com o meu estuprador e stalker, passei a noite acordando em pânico achando que ele tava no quarto, achando que ele ia me pegar de novo.

Eu tô chorando.

Eu tô chorando porque não consegui sair pra aula porque toda vez que eu chego perto da porta meu coração dispara, e dói, e eu não consigo respirar enquanto eu sinto que eu vou morrer se sair. Eu sinto que ele vai estar lá, e vai me perseguir pela cidade, como fez por todos esses anos.

Eu ainda tô chorando.

Eu ainda tô chorando porque preciso ir na farmácia, preciso ir no mercado, preciso descer até a recepção pra entregar meus documentos, mas eu mal tô conseguindo levantar pra ir ao banheiro. Porque meu corpo inteiro tá tremendo, porque tá difícil respirar, porque eu mal consigo me mover enquanto eu lembro tudo que ele me fez e sinto como se ele estivesse atrás de mim nesse momento. E se eu me virar, eu vou morrer. Se eu levantar, eu vou morrer. Se eu me mover demais, eu vou morrer.

Eu tô chorando em silêncio.

Eu tô chorando em silêncio porque toda vez que alguém passa no corredor eu tenho medo que seja ele, mesmo sabendo que é um pensionato altamente seguro, e só de mulheres. E se não for ele, eu tenho medo que seja alguém que vai me julgar, e rir de mim e me maltratar, por causa da pessoa que meus traumas me tornaram.

Eu tô em crise. Numa crise de pânico e ansiedade, causada por uma noite de pesadelos.

E por causa disso tudo, eu tô parada na vida.

Porque eu tenho muito, muito medo de avançar, mesmo sabendo que ele tá preso, porque eu não sei mais ser eu. Eu não sei mais confiar nas pessoas, eu não sei mais ajudar as pessoas, eu não consigo mais sequer ser gentil, porque quase todos os meus melhores amigos, a minha vida toda, se mostraram monstros que me destruíram de diversas maneiras como consequência de quem eu me tornei.

Tudo por causa dele.

Eu só precisei de um homem pra me destruir, e destruir a minha vida inteira.

Um único homem.

Um.

E ele não vai embora nunca. Nem todos os remédios e toda a terapia do mundo vão me fazer esquecer, vão me fazer superar, vão me fazer recuperar os dez anos que eu vivi com medo, escondendo isso.

Não vão me dar coragem pra pedir ajuda. Pra contar a verdade.

Não vão recuperar a minha saúde, não vão recuperar os anos de faculdade que eu perdi, não vão recuperar minha auto-estima, nem me fazer perder o asco, o nojo e o medo que eu sinto quando alguém encosta em mim.

Ele vive em mim.

Ele vive em mim sempre que eu não consigo sair, sempre que eu tenho um ataque de pânico, sempre que eu me corto, me bato, me xingo, me odeio. Sempre que eu digo pra mim mesma que eu não tenho valor, que não faz sentido, que eu nunca vou alcançar nada.

Sempre que eu repito as palavras dele. Sempre que eu escuto as palavras dele se repetindo nos discursos da minha família, dos meus professores, de quem quer me ferir.

Sempre.