29.09.14
Eu não me sinto bem usando roupas justas, decotes, ou roupas curtas. Eu não me sinto bem usando legging nem na academia, nem sob outras peças. Eu não me sinto bem em ambiente nenhum onde esteja um homem se eu estiver com uma roupa assim. Ou se eu for a única mulher lá. Eu não consigo aguentar aula de dança nenhuma, ou exercício nenhum, porque a roupa me incomoda, o toque masculino me ameaça, e abrir as pernas - mesmo que pra um passo de bolero - me faz sentir pavor.
Eu tremo de medo e me encolho contra a parede do elevador quando um homem entra. E eu apresso o meu passo quando ando a noite, agarrada na minha bolsa e nas minhas chaves, analisando pra onde correria se alguém se aproximasse.
Porque anos atrás um homem acreditou que eu era dele, e resolveu me usar e usar o meu corpo como ele queria.
Eu não consigo fazer nada sem pensar que devia não ter feito: eu falo e me arrependo, saio e me arrependo, existo e me arrependo. Eu me considero um estorvo a todos que me cercam, e minha depressão se torna pior a cada dia desde os meus doze anos. Eu sou incapaz de não me desculpar por tudo, e preciso de um esforço muito grande pra não me cortar e me ferir todos os dias.
Porque durante a minha infância um homem gritava coisas horríveis pra mim, fazendo eu acreditar que eu era a pior das pessoas e me fazendo temê-lo. Esse mesmo homem que um dia foi meu pai sumiu, e nunca mais voltou ou me procurou. E eu ainda acredito que a culpa é minha.
Eu não consigo lidar com o meu corpo, nem com as minhas cicatrizes, nem com a minha sexualidade. Eu odeio espelhos, e eu não consigo tirar fotos de mais do que o meu rosto. Meus braços me incomodam, minhas pernas, e até o jeito que eu respiro e minha barriga levanta me dá vontade de sumir.
Porque pequenos homens me ensinaram que eu era gorda e feia, que me amar era errado, e que eu ia morrer sozinha. Me ensinaram me batendo, porque eu era diferente, porque eu "queria ser um deles".
Eu tenho vergonha de jogar videogame, eu abandonei as minhas fandoms, e não tenho coragem de participar de fóruns ou clãs de mais nada no mundo virtual.
Porque homens atrás do anonimato me humilharam, me expuseram, me chamaram de poser e me isolaram de tudo que eu gostava porque "não é coisa de mulher". Outros me bateram e me mostraram como prêmio, porque eu "estava tentando me exibir".
Então, SIM, seus escrotos do caralho, eu vou continuar apressando o meu passo quando algum de vocês estiver na mesma calçada que eu; eu vou me encolher quando entrarem no elevador; eu não vou me sentir segura com nenhum homem desconhecido, tampouco com os conhecidos; eu vou chorar com piada de estupro e vou ficar com medo do piadista; eu vou me sentir culpada, e eu não vou parar de odiar a classe que vocês compoem NUNCA enquanto esses reflexos permanecerem e enquanto várias outras mulheres passarem pelas mesmas coisas.
E a culpa disso é de vocês próprios, e da merda da ideia de que mulheres são propriedades. De que a gente não vale nada, e é puta até quando virgem.
Eu não me sinto bem usando roupas justas, decotes, ou roupas curtas. Eu não me sinto bem usando legging nem na academia, nem sob outras peças. Eu não me sinto bem em ambiente nenhum onde esteja um homem se eu estiver com uma roupa assim. Ou se eu for a única mulher lá. Eu não consigo aguentar aula de dança nenhuma, ou exercício nenhum, porque a roupa me incomoda, o toque masculino me ameaça, e abrir as pernas - mesmo que pra um passo de bolero - me faz sentir pavor.
Eu tremo de medo e me encolho contra a parede do elevador quando um homem entra. E eu apresso o meu passo quando ando a noite, agarrada na minha bolsa e nas minhas chaves, analisando pra onde correria se alguém se aproximasse.
Porque anos atrás um homem acreditou que eu era dele, e resolveu me usar e usar o meu corpo como ele queria.
Eu não consigo fazer nada sem pensar que devia não ter feito: eu falo e me arrependo, saio e me arrependo, existo e me arrependo. Eu me considero um estorvo a todos que me cercam, e minha depressão se torna pior a cada dia desde os meus doze anos. Eu sou incapaz de não me desculpar por tudo, e preciso de um esforço muito grande pra não me cortar e me ferir todos os dias.
Porque durante a minha infância um homem gritava coisas horríveis pra mim, fazendo eu acreditar que eu era a pior das pessoas e me fazendo temê-lo. Esse mesmo homem que um dia foi meu pai sumiu, e nunca mais voltou ou me procurou. E eu ainda acredito que a culpa é minha.
Eu não consigo lidar com o meu corpo, nem com as minhas cicatrizes, nem com a minha sexualidade. Eu odeio espelhos, e eu não consigo tirar fotos de mais do que o meu rosto. Meus braços me incomodam, minhas pernas, e até o jeito que eu respiro e minha barriga levanta me dá vontade de sumir.
Porque pequenos homens me ensinaram que eu era gorda e feia, que me amar era errado, e que eu ia morrer sozinha. Me ensinaram me batendo, porque eu era diferente, porque eu "queria ser um deles".
Eu tenho vergonha de jogar videogame, eu abandonei as minhas fandoms, e não tenho coragem de participar de fóruns ou clãs de mais nada no mundo virtual.
Porque homens atrás do anonimato me humilharam, me expuseram, me chamaram de poser e me isolaram de tudo que eu gostava porque "não é coisa de mulher". Outros me bateram e me mostraram como prêmio, porque eu "estava tentando me exibir".
Então, SIM, seus escrotos do caralho, eu vou continuar apressando o meu passo quando algum de vocês estiver na mesma calçada que eu; eu vou me encolher quando entrarem no elevador; eu não vou me sentir segura com nenhum homem desconhecido, tampouco com os conhecidos; eu vou chorar com piada de estupro e vou ficar com medo do piadista; eu vou me sentir culpada, e eu não vou parar de odiar a classe que vocês compoem NUNCA enquanto esses reflexos permanecerem e enquanto várias outras mulheres passarem pelas mesmas coisas.
E a culpa disso é de vocês próprios, e da merda da ideia de que mulheres são propriedades. De que a gente não vale nada, e é puta até quando virgem.
Comentários
Postar um comentário